Que o cinema está diferente das suas origens, é um facto no qual, provavelmente, estamos todos de acordo. Mas já no que diz respeito às técnicas utilizadas hoje em dia, estou certo que é possível encontrar várias opiniões sobre o mesmo assunto. E quando refiro “técnicas” refiro-me a essa mais-valia (na grande maioria das vezes), que costumam ser os efeitos especiais (explosões, caracterizações, miniaturas, etc.) e os efeitos visuais/ digitais (Computer Generated Imagery).
Actualmente esta categoria está muito desenvolvida, com recursos cada vez mais potentes e acessíveis que fazem com que tudo, aparente (pelo menos à primeira vista), ser muito mais simplificado – um pouco à imagem do sistema implementado pelo nosso governo, o “simplex”.
Mas tal como o nosso sistema não é perfeito, aliás muito longe disso, também esta aparente simplificação e banalização deste tipo de recurso técnico trás muitos dissabores. Isto porque até há muito pouco tempo parecia mais importante ter um grande filme (repleto de efeitos especiais/ digitais, o que for) em vez de um argumento sólido ou até coerente. E exemplares que padecem deste problema, são acreditem, imensos. Tendo isto em conta é até engraçado pensar e recuar no tempo, até ao Sr. Meliés (o “pai” dos efeitos especiais) e perceber como a “dupla exposição”, ou o stop-motion nos conseguiram guiar até ao que temos hoje.
Eu sou o primeiro a afirmar que a utilização dos efeitos especiais, no geral, pode enaltecer na grande maioria dos aspectos um filme, mas no mesmo sentido também sou o primeiro a dizer, que por vezes esses mesmos efeitos podem, fazer algo a que vou chamar de, descredibilização. Foi o que senti depois de ver a explosão de “Contrato”. Mas o que terá passado na cabeça, para se fazer a cena da explosão do carro em CGI?! – Então não era muito mais interessante, explodir um carro a sério, com a supervisão, sei lá, dos bombeiros, de uma equipa de minas e armadilhas da PSP? Ou até mesmo a minha? Gaita, se me deixassem até era eu, ou o leitor (que com tanta dedicação me segue nestas palavras), a explodir com o carro! Qualquer coisa ficaria melhor que aquilo que nos foi apresentado, que apenas consegue suscitar o riso, quase compulsivo, note-se. Mas não é só em Portugal que isto acontece, também já vi cenas semelhantes em filmes de Steven Seagal (e uma palavra de apreço a este senhor, que trabalha que nem um cão, tem uma média de três filmes por ano, o que é bastante, mas nos quais muito poucos se aproveitam, batendo recordes no que diz respeito aos épicos “chunga”) entre outros actores ou películas. Dá-me portanto a sensação, de que este síndrome esteja mais relacionado com mentalidades (produtores realizadores, seja lá quem for), do que propriamente com estética ou até recursos financeiros. Ora, CGI está na moda? Embora lá então. Curioso é que as cenas de sexo nunca são em CGI. Coincidência? Provavelmente não… Já imaginaram a trabalheira…
Todavia também é verdade que esta “moda” está, a meu ver, a sair de moda. A plastificação das cenas, apesar da grande evolução dos efeitos visuais, está a ser novamente substituída pelo poderio físico que é vermos um carro a explodir, um duplo a saltar ou um camião e virar-se literalmente ao contrário, como aliás podemos ver em “The Dark Knight”, com a sua impressionante magnitude, e que nos apresenta pouquíssimos efeitos digitais. Como este há muitos outros exemplares que a pouco e pouco vão demonstrando que o que interessa é acima de tudo, ter uma boa história, dando claro toda a relevância aos efeitos digitais quando eles são verdadeiramente necessários e se contextualizam com o que se pretende contar. “Watchmen” é na minha opinião, um dos casos que roçam a perfeição, da utilização de efeitos digitais na história e não a história nos efeitos especiais facto que me agradou sobremaneira.
No fundo é como tudo na vida. Quando uma moda pega, a coisa tem tendência para ser levada ao extremo, ou ao exagero. Resta-nos então o bom senso de algumas pessoas, a capacidade criativa para ultrapassar os obstáculos que tanto a tecnologia como a evolução da mesma nos vão colocando. Para o nosso caso em concreto, é preciso acima de tudo, bom senso. Que o publico Português gosta, como qualquer outro público de ver uma bela duma explosão, eu não tenho dúvidas, já quanto à qualidade das mesmas também é unânime. Se não resulta não se faz… ou melhor, não se deveria fazer.
Basta lembrar Spielberg (génios à parte claro), quando olhou pela primeira vez para a máquina que ia fazer de Tubarão, no filme com o mesmo nome, e logo percebeu que de verosímil nada tinha. Solução, fazer thriller/ terror a partir de um par de barris amarelos. A solução mais simples é quase sempre a mais eficaz. Se não, lá está, podem sempre chamar-me, que as minhas tendências de pirómano virão ao de cima e eu mesmo faço explodir o carro, ou outra coisa qualquer, mas claro uma explosão em condições. Se algum leitor se quiser juntar a mim é só avisar (e vontade não deve faltar) … se bem que eu não posso prometer nada…
Até para a semana!
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