A televisão é por estes tempos, fonte de grandes produções… e da mesma forma é actualmente fonte de… grandes barracas! Também é indiscutível que o jornalismo na sua base modificou-se com o avançar dos tempos. Eu ainda me lembro (também não foi assim há tanto tempo), quando os pobres dos entrevistados mal abriam a boca, e eram logo interrompidos pelo jornalista por esta ou aquela razão. Também me lembro da célebre frase – “não está a responder à minha questão”, ou “está a desviar-se da minha pergunta” – frases que se formos a ver bem, são muitos poucas vezes utilizadas hoje. Aliás, a coisa mudou tanto que antigamente, independentemente da pertinência, ou não, da resposta esta era interrompida, e hoje deixam-nos falar e falar e falar, num exercício puro de retórica pois na grande maioria das vezes não respondem às perguntas que foram solicitadas, ou melhor contornam-nas.
Mas os tempos mudaram e de que maneira. Agora os entrevistados são interrompidos, porque o Mourinho chega a Portugal (que é de facto uma notícia importante) – aliás eu exijo também saber quando o Mourinho vai à casa de banho pois parece-me pertinente saber quantas vezes ao dia o senhor recorre a esse tipo de serviços da mesma forma parece-me pertinente saber quem é que vai substituir quem num reality show em pleno jornal (em directo note-se). É que se for de outra forma não poderá ser considerado jornalismo ou até serviço informativo. Discute-se muito que o jornalismo deve ser isento e imparcial, que o jornalista não deve opinar e por aí fora. A verdade é que a isenção e a não opinião, se formos a ver bem nem ocorre assim tantas vezes. Temos jornalistas que discretamente conseguem dar a sua opinião, ou a partir de um silêncio/ pausa mais prolongada, ou um olhar mais implícito ou até de um ligeiro esboçar de um sorriso. É discreto é um facto, mas a opinião está lá. Outros porém, já não o fazem de forma propriamente discreta.
Há televisões que gostam de marcar a sua posição, e normalmente fazem-no diferenciando-o de todos outros, se bem que me parece importante dizer – e temos que ser realistas – o nível qualitativo dos canais portugueses é manifestamente baixo (anda mesmo pelas ruas da amargura). Apesar de nem sempre nos agradarem e nem sempre serem os mais correctos também não é por isso que nos podem impedir de falar deles, afinal de contas da última vez que vi a ditadura acabou em 74, se bem que agora andemos lá perto e com a coisa mais ou menos disfarçada. Com isto chego ao acontecimento mostrado em directo (em bom jeito Português que é sedento de sangue) na passada 6ªF, na TVI. E meus amigos, a única coisa que sei, é que já vi touradas bem menos animadas. Independentemente de se gostar ou não, independentemente da cor política que cada um de nós (e eles) vestem, aquilo não pode acontecer, e acima de tudo, de jornalismo não tem rigorosamente nada. E pelo que me consta (sim porque da tvi só vejo mesmo o “House” isto é quando já não estou meio a dormir, todo torto no sofá com a saliva a escorrer-me pelo canto da boca de tanto esperar) o acontecimento da semana passada não é filho único, o que transparece uma certa gravidade na coisa. Confesso que fiquei algo espantado com as explosivas declarações de Sócrates há umas semanas atrás, mas de certa forma, a modos que fiquei a compreendê-las depois de ter visto tamanha (altercação) ou pega entre aqueles dois, que mais uma vez digo não pode acontecer num canal que se preze.
Mais espantado fiquei ainda com a “não” reacção do canal em causa. Quer dizer, o Sócrates fala e tem direito a resposta (defesa), por parte do responsável do programa, muito mal ensaiada diga-se (o senhor quase que engolia em seco cada vez que iniciava uma frase), onde recorrem à repetição de imagens, que inclusivamente são de um canal concorrente. Por outro lado, assistimos a uma cena destas em directo, indiscutivelmente lamentável, e não há qualquer reacção, e ainda mais grave, nem referências à situação há na emissão televisiva do jornal do dia seguinte. Ou melhor, mostram um pequeno excerto (logo no inicio da entrevista) e nada mais se fala sobre isso, como se nada se tivesse passado. Portanto abençoado youtube e afins que não permitem que o assunto seja “abafado” de forma tão simplista e desinteressante. Por sua vez são assustadores (e alguns deploráveis e infelizes, para não dizer mais) os comentários aos vídeos existentes no youtube no que respeita a esta matéria. Se por um lado a polémica pode trazer aumento de audiências, acredito que também muito facilmente as retire. E isto de tapar o sol com a peneira é vergonhoso. Se as pessoas querem e acima de tudo gostam de dar opiniões – que me parece que é no fundo a vontade da jornalista em causa – sobre os seus pontos de vista sobre este ou aquele assunto, então que se lhes dê um espaço onde eles possam exprimir o que pensam (um pouco à imagem de como o meu amigo Filipe fez comigo ao criar este espaço onde posso livremente divagar sobre os assuntos da actualidade ou outros). Sugiro então que a nomeiem comentadora residente, onde é possível (e além de lhe ficar bem ela gosta) falar sobre o que achar pertinente e opinar de forma que achar mais correcta.
Agora como jornalista é caso para dizer, “oh meuz amigozzzz” – há princípios éticos e deontológicos (como é referido no vídeo) que de facto devem ser cumpridos e mais importante, têm que ser cumpridos. Se não são ou se não há ninguém a fazê-los cumprir, algo está mal. Da mesma forma é importante não esquecer que o público é um bom (se não mesmo o melhor) indicador do trabalho que se faz em qualquer profissão que seja e por vezes é benéfico seguirmos algumas das indicações que nos vão sendo dadas. Pelo menos essa atitude demonstra maturidade, profissionalismo e mais importante que tudo prova que somos humildes e capazes de perceber o que facilmente pode ser melhorado, principalmente no que respeita ao canal e ao programa em causa que indiscutivelmente precisa de modificar “um” ou “dois” aspectos.
No fundo, os canais são livres e apenas os vê quem quer. Mas engane-se quem acha que isto resolve a questão. Pois mesmo que eu não os veja, ele existe e se existe é porque tem que apresentar o mínimo de qualidade para subsistir, e olhando objectivamente para o assunto em mãos, e sem dar razão a nenhuma das partes – até porque me parece que isso é o menos importante – às sextas-feiras qualidade é algo que não se vê muito para aquelas bandas. Está na altura de mudar, já estamos cansados, eu pelo menos estou e nem sou daqueles que acompanha com regularidade… e ainda bem se não já tinha dado em maluco!
Até para a semana!
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