Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

Crítica: "Angels & Demons"


 Classificação:  (6/10)

 

 

Falar de “Anjos e Demónios” sem me remeter ao livro ou até mesmo a “Código da Vinci” é impossível. A primeira porque, basearmos um filme numa obra literária com tanto sucesso obriga, ainda que de forma breve, a uma comparação entre os dois mundos, o literário e o cinematográfico. A segunda porque Ron Howard achou por bem colocar “Anjos e Demónios” cronologicamente posterior a Código da Vinci, quando nos livros, apesar de por cá ter sido editado depois, “Anjos” temporalmente anteceder ao “Código”. É também importante referir que cinematograficamente “Código Da Vinci” era um tremendo e evidente falhanço a vários níveis, com prestações desinspiradas por parte dos protagonistas e uma realização infeliz e incompetente. Se no “Código” as minhas expectativas eram grandes, para “Anjos e Demónios” (o meu livro favorito e na minha opinião o melhor que Dan Brown escreveu), simplesmente não existiam. Por outro lado a minha atenção e espírito crítico iam apurados, ainda para mais quando toda a equipa técnica se repetia.

 

Posto isto, esta nova aventura de Robert Langdon (Tom Hanks) é claramente superior ao seu antecessor. Tem um elenco que no geral está melhor dirigido que resulta em melhores interpretações, ainda que Tom Hanks fique muito aquém daquilo que já nos habitou na sua construção de personagens, deixando mais uma vez Robert Langdon, como uma máquina de debitar texto, sem grande emoção ou sentimento evidente. A protagonista tem um papel pouco evidenciado, e ao contrário do livro é deixada para um plano mais secundário. Fica mais uma vez a sensação que o papel feminino não foi devidamente explorado, não reflectindo a importância implícita que nas obras literárias nos foram apresentados. Ewan McGregor é uma agradável surpresa pois deixa-nos com uma interpretação muito positiva, sentida e emocionante que acaba por ser a grande mais-valia deste filme.

 

“Anjos e Demónios” possui um ritmo muito mais cativante, envolvente e frenético (que transparece a sensação de que passou rápido). O argumento é assim mais eficaz, e não provoca os incessantes e repetitivos bocejos de o “Código”. Tem mais acção, aproxima-se mais do espírito narrativo que o livro apresenta e como disse anteriormente a prestação dos actores favorece e é muito favorecida neste jogo de ritmos, presentes no argumento. Quanto à questão de cinematograficamente se tratar de uma sequela, não acho relevante na história, mas pode demonstrar alguma dificuldade em contextualizar a mesma. Isto leva-me ao final do filme. Eu compreendo e aceito que tenham que existir “alterações” para que um objecto literário seja adaptado ao cinema, o mesmo já não posso aceitar, quando se retiram ideias (explícitas) no livro, apenas porque “poderão” ser polémicas. E quem leu o livro, e viu o final do filme, sabe a que me refiro. A importância do Camerlengo e do papa que morreu é muito maior, muito mais pertinente e polémica do que aquela que nos é mostrada no filme. E isso não se trata de pequenas adaptações mas sim de uma tremenda falta de coragem.

 

Tecnicamente “Anjos e Demónios” é também superior ao seu antecessor. Não cai com tanta facilidade em erros de palmatória como anteriormente. Apresenta uma montagem mais cuidada, tal como a construção dos planos que é mais reflectida. Os efeitos digitais utilizados resultam na maioria das vezes, e é natural que tenha sido necessário recorrer a eles, devido às conhecidas dificuldades de alguns dos locais onde seria necessário gravar. A música, de Hans Zimmer, é desta feita mais inspirada e envolvente. Deixou de ser um acompanhamento com um objectivo de embalar (no sentido mais literal da palavra) o espectador e passou a ser uma obra com mudanças de ritmo e tom, que se adequam na perfeição à imagem que consegue enquadrar e contextualizar com primor e rigor o que o filme pretende transmitir, tendo inclusivamente o cuidado, de criar silêncio em certos momentos, para que toda a atenção recaia sobre o actor ou situação que está a acontecer na tela.

 

Resta-me portanto falar da realização. E ver um filme de Ron Howard, é ver tudo aquilo que já foi feito e ainda por cima com a filosofia do “politicamente correcto”. Não é capaz de apresentar uma única ideia de cinema nova, nem um plano que se possa dizer, “isto é de Ron Howard” porque simplesmente limita-se a passar um texto para imagem, onde não existe uma concepção de mise en scène (encenação), onde tudo é feito a uma velocidade de cruzeiro, onde tudo acontece sempre de uma forma inquietantemente rotineira e demasiado previsível. Desde “A Beautiful Mind” (2001) que nada muda no cinema deste realizador. Não há evolução. E ver um filme com alguns anos é em tudo igual a ver um filme mais recente. Os mesmos planos, a mesma desconstrução dos mesmos, a mesma linha narrativa e exactamente a mesma forma de filmar.

 

Em suma, é um filme, no geral, superior ao primeiro e que considero ser “agradável”. Mas que da mesma forma não deixa de nos causar desilusão, deixando aquele sentimento que tantas vezes já aqui falei, de que “falta qualquer coisa”. Falta alma, coração e empenho ao invés do registo tantas vezes já visto neste tipo de cinema/ género. Aliás, se virmos bem as coisas, qual foi a razão para tamanho sucesso dos livros? Precisamente porque traziam algo de novo, eram originais, provocadores, bem escritos e envolventes (independentemente de gostar ou não). Não há propriamente nenhuma fórmula de sucesso, há boas obras ou obras menos boas. Apesar de tudo isto, tenho a certeza que vai ser um sucesso, pelo menos comercial, e segundo a mentalidade que por cá anda (e que não deveria andar), isso é sinónimo de um excelente filme. Ainda que volte a dizer, é um filme que se vê bem e que portanto não posso deixar de aconselhar, claro sem esquecer o balde de pipocas. Para todos aqueles que não leram ou conhece o livro, o filme vai muito provavelmente ser, uma obra bastante mais interessante e de qualidade.


O MELHOR: O ritmo do filme e a evidente aproximação ao estilo dos livros, no contexto cinematográfico.

 

O PIOR: Um filme sem alma onde não somos confrontados com nada que já não tenha sido feito ou visto.

 

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publicado por OlharCrítico às 19:19
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