Se há alguma coisa em que os DVD´s encostam tudo o resto a um canto, é nas imensas possibilidades de legendas e idiomas com que se fazem acompanhar. Porém no cinema as coisas ainda não estão (e duvido muito que alguma vez cheguem a estar) tão acessíveis quanto à partida podem parecer. Talvez por isso seja cada vez mais frequente encontrar filmes (não só no cinema mas também na televisão), dobrados na nossa tão estimada língua mãe. Esta é uma ideia já seguida por muitos países, nos quais tudo é dobrado. Eu até concordo que é uma ideologia algo idílica e até patriótica, de vermos (bem neste caso ouvirmos) tudo na nossa língua, e não vejo portanto, qualquer problema nisso, até porque como diz o ditado, “com o mal dos outros posso eu bem”. Felizmente este “patriotismo” ainda não chegou cá. Por outro lado se não existissem dobragens eu não poderia contemplar pérolas como as do “Shrek 2” com o seu “fosga-se” (facilmente confundido com outra palavra e que deixou o cinema em absoluto silêncio), ou com as dos “The Simpsons” (filme aliás que não consigo escolher nenhuma em concreto pois todo ele é uma verdadeira pérola… do riso).
Não se entenda com isto, que eu estou contra a dobragem de um filme, pois não é de todo esse o caso. Dão emprego a muitos (e bons) actores (aqueles que actualmente vão sendo – carinhosamente – substituídos por figuras publicas), não deixa de ser uma mais-valia para algumas editoras e no fundo há que dizê-lo, existem algumas boas dobragens para Português. É importante referir que no nosso prezado país, os filmes que sofrem dobragem, são na grande maioria de animação. De facto actualmente parece que existe, ou paira no ar, uma espécie de obrigatoriedade em dobrar filmes de animação. E também contra isso nada tenho a dizer. Se a animação é por norma constituída por bonecada e afins, o filme deve realmente conter uma versão em Português para os mais pequenos acompanharem (ou tentarem, visto que este tipo de filmes é cada vez mais para adultos e não para crianças).
O que eu já não posso e consigo concordar, é as distribuidoras disponibilizarem apenas cópias de filmes dobrados. Foi o caso do recente “Wall-e”, que salvo erro, possuía apenas duas cópias do filme legendado (original) … em Portugal. Como se isso não bastasse, na grande maioria das vezes, na mesma cidade não se consegue encontrar uma sala que tenha disponível a versão original. Isto é inaceitável. Sessões (por exemplo) durante o período da tarde com a versão dobrada – estou totalmente de acordo – agora na sessão da noite não terem a versão original é no mínimo chamarem-nos a todos de crianças. Elas têm os seus direitos e nós temos os nossos, e só assim por acaso e para os mais distraídos, pagamos bem mais que elas! É claro que estes seres, normalmente amorosos, não tem culpa nenhuma desta situação, mas nós também não.
No fundo penso que todos gostamos de consumir um produto no máximo da sua originalidade. E o cinema não foge à regra. Todo o filme, a começar pelos desenhos (no caso da animação), é concebido a partir das vozes. Aliás é recorrente gravarem-se as vozes em primeiro lugar, o que faz com que muitos dos aspectos – físicos, psicológicos ou emocionais – surjam de forma espontânea da performance do actor no processo de dobragem, o que resulta muitas vezes em composições bastante próximas da perfeição, como é o caso de Eddie Murphy com o seu “Burro” em “Shrek”. Indo um pouco mais longe, as vozes no original são trabalhadas num contexto próprio e isso só por si, determina e define a existência de um espaço delineado da narrativa e da acção de qualquer personagem, facto que não se consegue alcançar na dobragem. Prova disso, são as necessárias adaptações a piadas (como é o caso de um episódio de “Dragon Ball” em que a determinada altura, um dos personagem deixa escapar a frase, “vamos ao estádio das antas?!”), provérbios etc., que muitas das vezes, na nossa realidade simplesmente não tem força, piada ou até espaço para existirem.
Contudo reconheço que as dobragens em Portugal têm melhorado significativamente. Da mesma forma se denota um maior cuidado de composição e interpretação por parte dos actores. Mas é no fundo, um trabalho quase inglório, aquele em que é necessário adaptar uma voz a um corpo que por muito que se tente, nunca deixa de ser e de se apresentar como um objecto “estranho”. Será certo para muitos que as dobragens podem ser igualadas aos originais, mas também é certo para mim que muito dificilmente o vão suplantar. E mais uma vez recorrendo a uma frase feita (que não passa disso mesmo), se “o que é nacional é bom”, o que é original tende a ser bem melhor.
E é definitivo, mesmo no fim de toda esta exposição de ideias, não consigo esquecer a voz que deram ao meu querido Homer na versão portuguesa do “The Simpsons – The Movie”. Agora vou ter pesadelos a semana toda…
Até para a semana!
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