Hoje dei por mim a pensar nesta questão. Não por não gostar do cinema português, pois até acho que tem muito valor, mas porque dei por mim a imaginar no que será o nosso cinema daqui a uns valentes anos. É verdade que o cinema Português no geral não agrada aos espectadores. Isto é perfeitamente aceitável e muitas das vezes até compreensível. Actualmente, a grande questão prende-se com o facto dos últimos filmes, segundo o que muitos dizem, terem marcado um ponto de viragem, na “reconciliação” (ainda que na minha opinião apenas aparente), do cinema português com o seu público. É interessante que se utilize esta afirmação recorrendo apenas e só ao factor “box office”. Ou seja, será correcto dizermos que o cinema Português está a mudar apenas porque tem mais espectadores a vê-lo? Dito de outra forma, será que o cinema Português se tornou comercial (sempre com salas cheias, economicamente viável) em vez do de autor (com muito menos lucro e mais afastado do público)?
Segundo Nicolau Breyner “o público Português está ávido de cinema comercial”. Pessoalmente sinto a falta de um bom filme de acção (apenas como exemplo), possuidor de cenas que me marquem, que me causem impacto. Por outro lado, tenho a certeza que não quero um filme, que não encerre uma história interessante, cativante, verosímil e acima de tudo bem escrita e realizada, pois desse “subgénero” chunga existem muitos lá para os “States”. De facto é preciso existir uma mudança, a todos os níveis, para o cinema Português crescer e amadurecer, estou inevitavelmente de acordo. O mesmo já não acontece com as medidas que têm sido tomadas para atingir essa mudança. Passo a explicar. Esta recente vaga de nudismo – que é certo que sempre existiu mas que só agora se intensificou – nos nossos filmes, é a meu ver, a única arma utilizada para angariar mais espectadores para as nossas salas. Porque é a isso que os nossos filmes se têm resumido nos quais a história é praticamente inexistente e os argumentos por norma de fraca qualidade, e aspectos técnicos na grande maioria das vezes mal aplicados. Estou seguro que o mesmo tipo de espectadores que agora as enche, depressa irá perceber que tudo isto é muito pouco e com isso passarão a exigir mais. Estado aliás onde, felizmente, muitos de nós já se encontram e eu me incluo. Só aí acredito na reconciliação.
Portanto mais uma vez tenho que questionar onde param os verdadeiros valores cinematográficos? Será impossível conciliar um cinema que possua uma identidade própria, uma linguagem fílmica interessante, com um cinema economicamente viável? David W. Griffit (um dos pais do cinema) conseguiu-o. Será que para o futuro queremos ver o nosso cinema reduzido a – perdoem-me a expressão – gajas nuas? A histórias(zinhas) limitadas, que se afirmam como sendo polémicas e a única polémica existente é perceber-se como é que foi possível gastar-se dinheiro para fazer determinado filme? Ou então reduzido a filmes biográficos, sejam históricos ou não, completamente isentos de qualquer valor cinematográfico, e que tão facilmente se fundem com o universo da televisão, como se os dois mundos, assim do nada se tornassem apenas num?
Se passar por aí, então confesso que prefiro com toda a certeza que encerro em mim, aquele cinema – o de autor – que a maioria não gosta, repudia, diz mal (muitas das vezes sem ter visto). Cinema esse longe do público, mas próximo do que foram os alicerces do cinematógrafo. Longe dos números e dos cifrões, porém próximo de ideias originais e criativas, onde se constatam boas histórias, pensadas e estudadas, aprofundadas (evidenciando cultura), ao invés de “contos” irreais, simplistas e feitos num ápice apenas para se garantir um lugar na “história”. Para mim, o cinema, qualquer cinema, tem que ser muito mais do que o “bom” ou “mau” numa relação directa, com os “muitos” ou “poucos” espectadores. Enfim… perdoem-me este desabafo mas no fundo trata-se de uma questão (e quem fala desta facilmente poderia falar de outras), bem mais complexa do que alguns produtores e realizadores (desta nova geração) querem fazer transparecer. E como já foi aqui dito anteriormente, “dá pena”!
Até para a semana!
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