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Classificação: (9/10) |
O "outro lado dos super-heróis" seria como eu definiria este filme se me pedissem para o fazer. Foi sem conhecer praticamente nada da BD na qual se basearam, que vi esta película como um ponto de viragem dentro do género. Como filme, respira e existe de forma harmoniosa sem recorrer necessariamente à obra original, sendo que, reconheço que possa ser uma ainda mais agradável experiência para quem conhecer a BD aprofundadamente.
Aliás, é precisamente na narrativa que reside um dos (muitos) pontos fortes deste filme. Densa, perturbante, sombria, realista, actual, violenta e adulta, retrata de forma evidente a notável capacidade criativa e escrita de Alan Moore, com os enredos e subenredos que desenvolveu, absolutamente brilhantes e nunca antes vistos e aplicados no âmbito cinematográfico, excepto talvez no ainda recente "The Dark Knight". Em "Watchmen" temos heróis na perspectiva de pessoas comuns. Temos heróis que além dos problemas de outros e do mundo também têm os seus (pessoais) para resolver. Por outro lado, e existente em todas as questões, a dualidade que caracteriza a vida de qualquer um de nós, e o que isso acarreta, a par com as respectivas escolhas e consequências que dessas advêm. É desde o inicio do filme (com um dos genéricos mais marcantes que já vi), que é construída toda esta complexidade narrativa que vai crescendo com os acontecimentos mostrados no filme, e que culminam num final que tem tanto de surpreendente como lógico e conclusivo, apesar do risco inerente que o realizador correu (que segundo o que li, alterou-o ligeiramente). E há que dizê-lo, tudo isto é louvável
Zack Snyder, tem um trabalho exemplar na realização. A sua capacidade visionária já não era novidade, contudo existe de um cuidado extremo e evidente, nas imagens que nos são mostradas. E mesmo não conhecendo a BD, é perceptível o empenho na tentativa de colar as imagens da BD ao filme, facto que resulta em pleno e, tenho que confessar, dá um aspecto muito cool ao filme. É muito graças à realização, que o filme resulta tão bem. Tudo foi pensado ao pormenor, e quando assim é o objectivo tende a ser alcançado. O mesmo acontece com os efeitos visuais do filme. Neste caso revestem-se de uma importância significativa e na grande maioria das vezes são bastante eficazes. "Na grande maioria das vezes" porque no que respeita à personagem de Dr. Manhattan, já lhe denotei algumas falhas técnicas, principalmente quando com este existe interacção com uma ou mais personagens, o que se traduz numa falsa sensação de toque e profundidade. Isto apesar do visual fantástico que lhe foi destinado.
Relativamente aos actores, mais uma vez a única palavra que me ocorre é: exemplares. As suas personagens, caracterizadas de forma perfeita, dão assim a conhecer ao espectador, toda a densidade pessoal de cada uma delas, que em tanto beneficiam a história, principalmente no que respeita ao segmento final da mesma. Também a música, tem um papel importantíssimo no filme e é, a meu ver, muito bem escolhida. O genérico, como já referi, é uma pérola preciosa (para guardar para sempre) e todo o filme está irrepreensivelmente sustentado do ponto de vista músical.
Porém, e já li vários comentários em concordância, falta qualquer coisa ao filme. Também eu senti isso, mas talvez advenha do facto, que bem vistas as coisas – e quem conhece a BD, melhor poderá opinar sobre esta minha posição – não existe nada de propriamente original (e genial) proveniente da mente de Zack Snyder, tratando-se "apenas" de uma reprodução (muito fiel) que demonstra o mais profundo respeito pela obra do autor que a criou. Neste sentido também é certo que provavelmente nunca terá sido definido como objectivo, a criação de algo totalmente novo, mas a verdade é que não impede de nos deixar com ânsia de mais e melhor, além da ilustração (muito próxima da perfeição) da obra de Moore.
Não obstante deste pequeno factor (discutível em toda a sua extensão), é um filme imprescindível. Ponto de viragem no género e um filme obrigatório. Uma experiência marcante e estimulante, em todos os aspectos, e com a qual, cada vez menos vezes, somos confrontados lá para os lados do cinema americano
O MELHOR: A densidade e inteligência narrativa, a vertente visual do filme. A realização.
O PIOR: A estranha sensação de que falta qualquer coisa, com que se sai da sala.
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