Imaginem-se num qualquer dia da semana, depois de terem comprado um qualquer bilhete para uma qualquer sessão de cinema num qualquer centro comercial. Imaginem-se portanto a percorrer aquele corredor que nos conduz até à referida sala, e que por vezes, tanta ansiedade causa por sabermos que ainda faltam dois ou três minutos para começar o nosso filme. Entramos na sala, contemplamos aquela maravilhosa tela de grandes dimensões, as colunas salientes da parede, o ambiente criado pelo lusco-fusco e pelas luzinhas referentes às filas. Sentamo-nos, aconchegamo-nos, respiramos fundo, preparamo-nos. A imagem surge pela primeira vez e finalmente aí… “GAITA! PUBLICIDADE!!! AINDA TENHO QUE GRAMAR COM 15 MINUTOS (NA MELHOR DAS HIPÓTESES) ANTES DO FILME COMEÇAR”.
Não foram bem estas palavras que proferi mas o conteúdo (e a frustração) está bem evidente. Estou por demais saturado por sermos, literalmente, obrigados a dispensar o nosso tempo a essa nossa amiga que é a publicidade. Deixo os trailers de fora pois, de certa forma estão relacionados com a “temática” e o espaço. Agora “Martini”, “Sagres”, “BES”, (ainda para mais com o Cristiano Ronaldo, que é uma agonia vê-lo a representar – e a fazer de génio – é demasiado trágico para ser verdade). E a lista continua, “Millenium”, “TMN”, “Whisky” (de marca que neste momento nem me lembro) ou então aqueles fantásticos e inesquecíveis apelos (sob a forma de publicidade) contra a pirataria e muitos muitos outros (que, bem vistas as coisas, acabam por ser sempre os mesmos). E quando dou por ela, já tenho os pés por cima da cadeira da frente, em cima da cabeça da pobre senhora que acidentalmente está a sofrer do “à vontade” de um caramelo qualquer (que por acaso sou eu) que pensou que com tanta publicidade só podia mesmo era estar em casa – Isto nunca aconteceu note-se!
Infelizmente na televisão o problema é semelhante (aqui os blocos publicitários chegam mesmo a alcançar os 20 minutos de duração) – facto que não sei se sabem, mas é ilegal (e quem é que controla isso…? Pois, ninguém). Porém na televisão isto acontece com uma “pequena” (grande) diferença – é que eu não sou obrigado a consumi-la. Pelo menos tenho a alternativa do zapping, ou então simplesmente desligo-a. Eu percebo que a televisão precise disso para sobreviver (e provavelmente também o cinema) mas será assim tão estranho que as pessoas se sintam fartas de aturarem tanta publicidade? É que a este ritmo, qualquer dia, temos durante a projecção dos filmes, intervalos de breves segundos/ minutos (um pouco como se faz nos canais de cabo, tipo AXN ou FOX), para publicitar uma marca de pensos higiénicos (nos quais a publicidade é frequentemente hedionda), um chocolatinho, ou vá lá, mais uma bebida alcoólica que seja (como é típico nos nossos canais de televisão – não esquecendo o obrigatório “beba com moderação”).
Voltando ao cinema, será que por pagar a quantia exorbitante que pagamos por um bilhete, fico automaticamente obrigado a consumir publicidade? Se assim é, então sugiro que se criem dois preços. Os preços actuais para quem não quer ver publicidade e um preço um tanto mais caro (eu disse um tanto) para quem quer ou não se importa. Agora “comermos” todos por tabela é que desculpem lá mas já mói! Todavia, como sei que esta minha sugestão não vai agradar aos senhores “publicitários”, sugiro outra. Apresentem os objectos em questão com originalidade e criatividade e coloquem publicidades novas, para não serem sempre as mesmas. Aliás se tiverem dúvidas neste ponto, o melhor mesmo é recorrerem a um programa chamado “Commercial Breakdown” que actualmente é transmitido na SIC Radical, com o melhor que se faz de publicidade pelo mundo fora. Acreditem que assim, nem vocês, e muito menos eu, me incomodava por estar a ver 15 minutos de publicidade. Doutra forma só apetece mesmo dizer, Xô Publicidade – também pudera, com um Cristiano Ronaldo a fazer de geniozinho… mas quem é que se terá lembrado disto?!?
Até para a semana!
De On_The_Stage a 9 de Março de 2009
Caro André trouxe mais uma vez a cena um tema de enorme pertinência. Tenho de concordar quando afirma que a publicidade ante exibição passou a ser em demasia. O que antes eram apenas e só dois minutos e dois spots, passou a ser abusivo e desrespeitador pelo tempo e pelo dinheiro dos espectadores, em muitas salas de cinema, a hora marcada para começo do filme, corresponde sim ao início da exibição da dita publicidade. Já me aconteceu por diversas vezes pensar que o atraso já existia, quando na realidade mal se põe os pés na sala, deparei-me com o ecrã colorido, mas pelo cinzento dos anúncios publicitários.
Todavia, a meu ver, o pior nem são esses “parcos” minutos (a pensar como publicitário ou como receptor da maquia conseguida pela cedência do espaço) vendidos antes dos filmes. O pior passou a ser o que nos meandros da publicidade se apelida de product placement (publicidade em cena). Daí a minha pergunta ou melhor afirmação, para que intervalos durante os filmes se, muitos deles, por si são uma montra de objectos e de marcas?
Especifico. Quem seria um Agente Secreto, ao serviço de sua Majestade, sem um Audi ou um Austin Martin? Sem o seu telemóvel topo de gama e o último requinte em relojoaria? Quem disser que quando vê um filme do 007 e não vai com a pulga atrás da orelha para ver as mais recentes modernices mente. E porque razão em cada um desses filmes percorrerem-se quatro ou cinco países, de dois ou três continentes? Que é isso se não uma forma de publicitar lugares, espaços e modos de vida? E estes filmes em concreto são apenas um exemplo num universo de muitos, poder-se-ia falar do Kill Bill (roupas e calçado desportivo), Golpe em Itália (publicidade feroz e descarada ao modelo Mini), Iron Man (em associação com a Audi, se bem me recordo até foi criado um site especifico), todos aqueles cujos carros são personagens principais (Transporters, Death Race, Fast and Furious) entre muitos e muitos outros.
A verdade é que o Cinema acaba por ser um meio barato de publicidade, tendo em conta o público que abrange e os lugares onde a sua influência chega. E mais uma vez os números vencem e a eficiência está comprovada, estudos indicam que 61% dos apreciadores de cinema dizem reparar nas marcas e 30% afirmam ficar tentados a experimentar a marca assim promovida. Pior só mesmo as formas cada vez mais subtis de publicitar como “inundar” as celebridades de presentes à espera que um paparazzi as fotografe e assim o investimento se rentabilize…
Mais uma vez um aproveitamento vergonhoso do tempo, da paciência e da inteligência dos amantes de Cinema, mas a verdade é que muitos continuam a cair e a não reclamar.
E como os números falam por si, no nosso pequeno rectângulo, em 2003, forma investidos 9 milhões e 900 mil euros em publicidade no Cinema… Cá para mim, no ínfimo da minha inteligência, nem um cêntimo foi desperdiçado…
Caro OTS,
Seja mais uma vez bem-vindo a este espaço de discussão, e do qual tenho retirado tanto aprazimento, com a sua e a participação de todos. E desta vez, quem tem mesmo que lhe agradecer, sou eu e passo a explicar porquê. Confesso que quando escrevi “Xô Publicidade Xô”, não possuía todos os dados que foi providenciando no seu comentário os quais lhe fico muito grato. Por outro lado, mais uma vez conseguiu introduzir uma nova perspectiva sob o assunto em questão, além da inclusão de conceitos que considero serem muito pertinentes.
Começaria esta partilha de ideias a partir da sua afirmação. “Para que intervalos durante os filmes se, muitos deles, por si são uma montra de objectos e de marcas?” Felizmente isto ainda só se vai passando no mundo da televisão – e sim apesar de existirem pessoas que consideram cinema e televisão dois mundos bastante aproximados, eu não acho e muito menos os considero próximos, ainda que respeita profundamente quem pense assim. A televisão vive (existe) devido à publicidade. Mesmo o suposto canal público (que de público tem muito pouco), apesar de ter apoios estatais, grande parte da sua existência é devido à publicidade. No geral da televisão são os milhões que a pagam que fazem os canais sobreviver e com isso “providenciar” ao espectador, a “obrigação” de a consumirmos.
Já no cinema, e aqui perdoe-me discordar um pouco da sua visão, o cenário é ligeiramente diferente. Não é que seja mais aceitável ou permissível, apenas ligeiramente diferente. Passo a explicar a razão desta minha posição. Eu não sou nenhum perito na área, antes fosse, mas já tive o prazer de assinar a realização de uma curta-metragem. Nela também ocupei o cargo de produtor, e fiquei assim, responsável de tentar reunir todas as condições para o filme seguir em frente. E neste capítulo, falo a um nível longínquo da realidade evidenciada em filmes como “Transformers”, “James Bond(s)” ou “Golpe(s) em Itália”. Mas o processo na sua base acaba por ser semelhante.
Abrindo um pequeno parêntesis, nos casos de filmes da saga “James Bond”, e outros, existe um conceito; “Merchandising”. “O objectivo dos merchandisers é desenvolver, através desta ferramenta de marketing, acções de animação e valorização dos produtos no ponto de venda, de forma a influenciar a decisão de compra do consumidor.” É publicidade? É. Mas desenquadra-se do contexto em que é apresentado? Na minha opinião, na grande maioria das vezes não. É por isso, um processo mais claro e dessa forma menos incomodativo ao espectador. Fechando parêntesis, e afastando-me desta realidade megalómana e milionária Hollywoodiana, é por vezes necessário dar algo em troca àqueles que nos providenciam um “serviço”, e nem sempre o que se dá, é ou pode ser monetário. Pode passar por protagonismo, por mostrar, por publicitar lá está. Imaginemos que o OTS tinha a patente de um protótipo de um carro topo de gama, que eu estaria interessado em utilizar num futuro filme meu (e se tiver mesmo informe-me). E se eu lhe dissesse que não tinha como pagar para a sua marca aparecer. Provavelmente o que me iria pedir seriam, uns planos muito bem pensados, em que o logótipo se evidenciasse de alguma forma, nos quais se visse a beleza (espectacularidade) do carro. Estou enganado? Estaria sempre a publicitá-lo é certo, ainda que a meu ver, de uma forma muito mais discreta do que é frequentemente feito em televisão. Em Hollywood recorrem a isto? Talvez não com a simplicidade com que a apresentei mas seguramente é feito com mais frequência do que se possa imaginar. Portanto e remetendo-me ao seu ponto de vista, é talvez essa a grande diferença do cinema para a televisão, e uma diferença que pelo menos para mim assume-se como sendo fulcral no processo de “comercializar publicidade”.
Para terminar, até porque já vai longo, o cinema é realmente e indiscutivelmente um meio "fácil" de canalizar publicidade. Mas e como se diz na gíria popular, apenas com uma ligeira modificação, por vezes não é o que se faz, mas a maneira como se faz que importa. Essa sim, é frequentemente um atentado à inteligência e à paciência, que apenas tendem a resultar no consumo desenfreado de produtos fazendo com que o desperdício seja realmente muito reduzido. Bem visto!
Cumprimentos cinéfilos
A.S.
Como sempre....no ponto! Com toda a razão! eu nem sei o que comentar nestes teus posts porque, de facto, falas de tudo o que nos vai na alma...
opá eu admito que acho que o anúncio da super-bock é um dos mais bem feitos e porreiros anuncios que Portugal já fez mas...será que não chega?? Nos filmes todos a mesma coisa se calhar já é puxar um bocadinho demais..
o preço dos bilhetes aumenta cada vez mais e cada vez mais rapido (até parece que foi ontem que "só" custavam 5 euros...já vai quase nos 6..)...e cada vez mais temos de "comer" com coisas que não fazem outra coisa que não entediar o espectador e atrasar a sessão (algo que é realmente negativo tendo em conta que a maioria das pessoas vai ao cinema à noite e não se pode dizer que haja muitos filmes abaixo da marca das 2 horas e tal acabando a sessão tardissimo e podendo ser o proprio espectador uma vitima do cansaço da semana nao aproveitando o filme ao maximo...)
isto há coisas....que só visto mesmo.
ah! e mais uma vez...nem preciso dizer...grande artigo ;)
Cara Close-Up,
Peço desculpa por não ter respondido antes, mas foi uma semana um tanto para o complicada. Mas cá estou. Mais uma vez agradecer as palavras de incentivo perante este espaço do qual só tenho retirado boas experiências. Tocas num ponto interessante, que eu não quis aprofundar muito, pois isso dava para outro tema, que é a qualidade dos anúncios. E como tudo, também a publicidade tem o seu tempo, e mesmo que seja um dos melhores, que por acaso até é, há tempo para ele existir e há tempo para ele ser "esquecido". Aliás não seria a primeira vez que uma determinada publicidade saía da ribalta, para uns meses mais tarde voltar a surgir. Isso sim é ser-se inteligente e saber fazer render o seu produto. Pena que não sejam todos assim.
Quanto aos preços nada vou dizer pois estou a preparar para este espaço esse tema, pelo que depois podemos discutir isso de forma mais aprofundada ;)
Em suma, sim há coisas que só visto mesmo, mas há outras que era melhor nem vermos - como publicidades chatas ou repetitivas (eh!eh!)
Obrigado pela visita e cá te espero no próximo tema ;)
A.S.
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