Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

"Indivíduas" do sexo feminino

 

Quando o Filipe me pediu para escrever estas pequenas crónicas, o meu primeiro pensamento foi, "está doido! Onde é que eu vou arranjar temas para isto?" De facto o meu primeiro pensamento estava errado, e de que maneira. Passo a explicar o porquê.


Na passada semana andava eu a passear pelo TAGV (Teatro Académico Gil Vicente) a ver a programação que estava afixada, a ver preços e a estudá-los, sim porque a conjuntura do nosso país obriga a isso, quando surgem três jovens (vamos chamar-lhes adolescentes) que pretendiam consultar a mesma tabela que eu. Entretanto é necessário referir que em cena iria estar "Os Produtores" que tem como imagem promocional, um cartaz de tamanho gigantesco, com a "nossa" Rita Pereira vestida num vestidinho branco, que apresenta um decote até ao umbigo, e uma racha na parte da saia que chega no mínimo até à cintura. Sim, acreditem que é apelativo!!! Voltando aos jovens (adolescentes), que depressa começam com o dedinho a consultar a tabela de preços, para pararem precisamente na peça "Os Produtores". Depois de uma cuidada observação sou confrontado com esta pérola: "Porra, que isto é muita caro". É verdade, pensei eu, é um tanto ou quanto caro. Portuguesismos à parte, e a ausência das asneiras propriamente ditas, o que sinceramente me surpreendeu pois estava à espera de algo bem pior, depressa se ouve o outro jovem e este sim absolutamente fantástico. Diz ele de forma pronta: "Opá e não há aí mais nada que tenhas gajas?!?" Foi aqui que percebi, aquela que penso ser a razão pela qual no cinema Português existirem sempre tantas cenas de sexo, ou gajas nuas, muitas delas temos que ser sinceros, nem se percebe bem a razão pela qual aparecem. De certa forma é para satisfazer os jovens (adolescentes, ainda que nem todos é certo) porque o cinema apesar de caro, consegue ser mais barato do que o teatro! É essa a mentalidade que o pessoal apresenta quando faz os respectivos trailers, e bem vistas coisas, são mais as imagens que apresentam cenas "quentes" do que propriamente aquelas que apresentam a história do filme. É por causa disto e de frases como a anterior.


Voltei a pensar cá para mim, cultura propriamente dita, nada. O que a malta quer é ver gajas boas e semi-nuas, sim porque desconfio muito que a Rita Pereira se vá despir mais do que aquilo que está apresentada no cartaz. Ponho-me a pensar, qual regime de faltas? – Vamos antes pôr os professores nus (no sentido literal da palavra) e tenho a certeza que as notas vão começar a subir. Bem pelo menos algo vai subir de certeza. Qual matemática difícil? – Coloquemos perguntas do género, "qual o ângulo que o seio esquerdo se distancia do seio direito", com a respectiva imagem a complementar e a matemática passa a ser o exame nacional com melhores notas. E anda o governo preocupado com o TGV, quando estas simples medidas iriam resultar tão bem. E mais que não fosse faziam com que o desânimo do povo Português desaparecesse. E pronto enquanto isto não acontecer, vamos indo ao teatro e ao cinema, desenvolver a nossa cultura, ou pelo menos tentar. Se pelo meio conseguirmos ver gajas boas e semi-nuas, melhor, e se isso implicar o menos gasto possível, então torna-se simplesmente perfeito! "Que filme é que vamos ver hoje? É-me indiferente, desde que tenhas gajas.","Vou ver o concerto X amanhã, queres vir? Não sei… é caro? Mais importante ainda, tem gajas?!"


Até uma próxima. E fica prometido… com gajas, ou melhor, "indivíduas" do sexo feminino. Então não fica bem melhor?

 

publicado por OlharCrítico às 19:00
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7 comentários:
De Tiago Ramos a 6 de Fevereiro de 2009
Por isso é que o Second Life, na sua semana de estreia, foi o terceiro mais visto em Portugal. Tem nudez, sexo e figuras das novelas.
De Nuno a 6 de Fevereiro de 2009
E além disso ainda tem o Figo...
De OlharCrítico a 7 de Fevereiro de 2009
Caro Nuno, remetendo-me à sua observação vou citar “Criswell” que para quem lê a “Premiere” conhece de certeza. “A dispensável cena de table dance com Figo e Liliana Santos num suposto casting em Second Life. O Figo tem lá muito melhor em casa!” Eu ainda iria mais longe. Mas o Figo como actor?! Na publicidade da Galp (penso que era da Galp) em que ele aparece até arrepia vê-lo interpretar. Enfim! Mas não me vou alargar muito mais. Garanto que será tópico para um próximo tema no “Outro Lado da Tela”, a confusão que se faz frequentemente em Portugal, entre actores, apresentadores, jornalistas, futebolistas e modelos.
De OlharCrítico a 7 de Fevereiro de 2009
Caro Tiago é até muito provável que tenha sido essa a razão pela qual o filme foi o terceiro mais visto em Portugal. Pessoalmente ainda não o vi. Mas se recuarmos no tempo, e não será preciso muito, o que cada vez mais leva as pessoas ao cinema, além da evidência das cenas quentes, é a publicidade a essas mesmas cenas. Em qualquer meio de comunicação isso é privilegiado e parecendo que não o Português gosta do calor libertado por esse tipo de “publicidade”. Mas depois por outro lado, temos outra questão. Aquilo que se diz do filme e a maneira como se diz. Passo a explicar, ainda há muito pouco tempo pude ouvir o produtor do “Second Life”, Alexandre Valente (o mesmo do “Corrupção”) dizer, e em sintonia com os actores que ao mesmo tempo eram entrevistados, que a rodagem correu muito bem e onde todos se deram muito bem. Pergunto-me se o despedimento do peso pesado Nicolau Bryner, e um outro co-realizador de alguma forma transparece isso? – Vivemos num mundo de imagem, é certo, e essa por vezes vale mesmo mais do que mil palavras.
De Anónimo a 7 de Fevereiro de 2009
Muito me apraz a nova vitalidade e o novo dinamismo do blog. O grafismo, a apresentação e a organização estão excelentes. Espero que continuem o bom trabalho desenvolvido até aqui, alargando os horizontes dos leigos cinematográficos.

Quanto a esta nova rubrica e ao tema escolhido para o seu início tenho a dizer que é de todo um assunto pertinente. Efectivamente, o corpo, a luxúria e o sexo estão na ordem do dia e sem eles parece que já não se constroem sucessos de bilheteira. Se não aparece um peito nu, uma cena ousada ou um beijo atrevido parece que o filme, série ou outro perdem o interesse e a actualidade. Assim o pensam não só os espectadores, ávidos em ver e bisbilhotar a intimidade alheia, mas também quem escreve, produz e realiza, cada vez mais desejosos de deixar os seus nomes nos anais da história do cinema (muitas vezes não pelas melhores razões) e acima de tudo para ganhar uns trocos a mais. Não os censuro por tal, os meios ou melhor os conteúdos utilizados a meu ver são-no de forma pouco ortodoxa.

Explico-me. Com esta utilização abusiva, o corpo, o sexo, uma relação a dois e tudo o resto que os envolve deixam de ter encanto e de despoletar a nossa imaginação. Passaram a ser óbvios, banais, até mesmo corriqueiros. O que antes era erótico agora é pornográfico. O que anteriormente era único agora é vulgar. O que antes era pensado, ponderado agora é feito impulsivamente, sem pensar nas consequências.

Com este discurso posso estar a mostrar demasiado conservadorismo. Não é isso que se trata, mas sim do preservar a magia de momentos que deveriam ser únicos e lembrados a vida toda, envoltos em inocência e romantismo. E este é o principal “defeito” desses exemplares da nossa juventude que encontrou no TAGV. Inconsequentes, impulsivos, ansiosos por experimentar tudo, ver tudo, sem querer saber tudo. Onde informação muitas vezes não é sinónimo de formação, em que o presente é o mais importante, nem sabendo sequer que existe futuro.

O pior é saber que os meios que deveriam cultivar essa formação (e aqui encaixo o cinema, o teatro e as outras formas de arte) aperceberam-se desta avidez pelo culto do corpo, do desejo e até mesmo de uma certa promiscuidade e dirigem para ai os seus produtos, pois só assim terão um público assíduo e regular. São muito poucos aqueles que escolhem um filme a pensar no que vão aprender ou de que forma o vai marcar. Não é a primeira vez que ouço, aquando da escolha dum filme “não quero um que me faça pensar”.

O Cinema, o Teatro e as restantes artes adaptam-se aos tempos, aos costumes, às vivências, todavia quem trabalha neles tem de ter cada vez mais consciência que são “ditadores” de tendências, de estilos de falar, de vestir, mas acima de tudo de ser. E, sinceramente, a mim pouco me interessa saber e acima de tudo ver o que cada um é quando tira a roupa ou o que faz na sua intimidade.

Apenas uma crítica, se me for permitida, relacionada com o uso da nossa língua. Chamo apenas a atenção para algumas incorrecções e palavras, que apesar de constantes na nossa oralidade, não existem epistemologicamente no nosso dicionário, são os casos de indivíduas e assumpção. Por tal chamada de atenção apresento as minhas mais sinceras desculpas, mas o nosso papel como vossos “fregueses” é também ajudar a melhorar o serviço prestado por vós.

Saudações Cinéfilas
De OlharCrítico a 7 de Fevereiro de 2009
Caro On_The_Stage. Em primeiro dizer-lhe, se me é permitido, que a sua intervenção foi de facto uma das mais pertinentes que eu já tive oportunidade de receber, sem querer desprestigiar todas as outras que já recebi. Como iniciei este texto, agrada-me particularmente a participação das pessoas, até porque o sentido do blog é mesmo esse.
Mas avançando, vou mesmo é começar pelo fim. Todas as críticas são bem-vindas e quando se apresentam fundamentadas da forma como me foi exposto no seu caso, nunca as poderia condenar ou não aceitar. Apresentam-se como sendo benéficas e no sentido de melhorar, devemos humildemente reconhecer algumas possíveis incorrecções que possam eventualmente acontecer, até porque perfeito ninguém é, nem eu o desejo ser. No que respeita à palavra “assumpção” foi realmente um erro meu, precisamente pela razão que apresentou. Já foi devidamente alterada no texto. Já a palavra “indivíduas” era, pelo menos na minha maneira de ver, uma evidente ironia e “folia” à palavra indivíduos. Como a sua interpretação é tão válida como muitas outras que possam surgir, resolvi colocar a palavra entre aspas, para a ironia ligada ao que escrevi ser assim mais perceptível.
No que concerne ao comentário em si, quase que arriscaria a dizer, que se trata de algo que já pensou bastante e que da mesma forma lhe faz alguma confusão. Porém e infelizmente é essa a nossa realidade. Eu pelo menos faço parte daquela geração a que muitos apelidam de “rasca” mas sinceramente e mais actualmente parece-me mais exacto se denominássemos a geração de “inculta” (sem querer com isto ferir susceptibilidades.) Se com as suas palavras for considerado “conservador” então eu também devo ser, e vou realçar um pequeno parágrafo que escreveu e que me parece que define tudo o que se falou. Se me permite passo então a citá-lo; “Com esta utilização abusiva, o corpo, o sexo, uma relação a dois e tudo o resto que os envolve deixam de ter encanto e de despoletar a nossa imaginação. Passaram a ser óbvios, banais, até mesmo corriqueiros. O que antes era erótico agora é pornográfico. O que anteriormente era único agora é vulgar. O que antes era pensado, ponderado agora é feito impulsivamente, sem pensar nas consequências.” Esta sua frase aviva-me a memória para um dos melhores filmes que já vi, “Seven”. A determinada altura Kevin Spacey afirma que encontramos “pecados” em cada esquina e com uma frequência demasiado elevada, e que por isso deixaram de ser pecados para passarem a ser aceites pela sociedade e considerados assim “situações banais, vulgares”.
Por fim resta-nos esperar que com o passar dos tempos, se vão mudando também as mentalidades… mas não só as dos jovens ou adolescentes mas sim de uma sociedade.
Despeço-me por agora esperando encontrar-vos brevemente com o mesmo espírito crítico, vontade e iniciativa de participarem no que se vai discutindo e apresentando neste blog. Os nossos “fregueses” são sempre bem-vindos

Cumprimentos cinéfilos a todos :)


A.S.
De On_the_Stage a 7 de Fevereiro de 2009
Peço desculpa por não ter assinado o comentário.

On_the_Stage

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